Sustentabilidade, Design e Cotidiano
A população mundial está crescendo e já passou dos sete bilhões de habitantes. Para o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), até 2050, quando a população mundial deverá atingir nove bilhões, serão necessários três planetas para suprir as necessidades humanas. O que isso significa? Que a forma que vivemos não é sustentável e que se não repensarmos com urgência a relação do consumo com o meio ambiente, enfrentaremos nas próximas décadas crises gravíssimas em escala global.
Com o crescimento populacional também cresce a demanda por energia, a emissão de resíduos e a utilização de água. Estes são os principais indicadores ambientais, intimamente interligados entre si. Em muitos países, a utilização de derivados de petróleo é a base energética para os transportes, o que é um desastre para o ambiente em termos de emissões de gases do efeito estufa, que intensificam o aquecimento global, alterando o clima de todo planeta. A intensificação do processo de urbanização agrava ainda mais a situação.
Como o design está diretamente relacionado com produção, prestação de serviços e consumo, podemos então afirmar com veemência que a atuação profissional do designer deve estar fortemente relacionada com sustentabilidade e preocupações ambientais. Ao contrário do que muitas pessoas erroneamente pensam, design não se trata de estética, de arte lírica, de aparência, de acabamento e finalização. O design deve estar presente no início, desde o momento da definição do DNA de empresas e marcas, bem como na concepção de projetos, serviços e produtos, tendo voz ativa em todas as etapas. Para a sustentabilidade, principalmente em etapas como escolha de materiais, procedimentos, hábitos de consumo, logística etc.
O design gráfico se relaciona diretamente com questões como a escolha e utilização de papel, que tem sua origem vegetal de reflorestamento de lavouras de monocultura, prática que gera alto impacto ambiental; com tintas, que são tóxicas na maioria dos casos; com o desenvolvimento embalagens, que acabam se tornando cerca de metade do lixo doméstico; com o uso de telas e monitores etc. As demais vertentes do design, como o design de produtos, de ambientes/interiores e de moda também têm uma série de aspectos a serem amadurecidos, também em termos de materiais, utilização de energia, consumo e geração de resíduos. Além disso, podemos nos posicionar no mercado levando em conta em qual empresa trabalhar, quais clientes captar e em quais projetos atuar, considerando a preocupação ambiental que estes possuem.
Fora do âmbito da atuação profissional, enquanto cidadãos também podemos ter uma série de atitudes mais sustentáveis para com o planeta. Se lembrarmos dos cinco ‘Rs da reeducação ambiental (repensar, recusar, reduzir, reciclar e reutilizar) e tivermos um esforço para os aplicar no cotidiano, certamente estaremos contribuindo muito com o meio ambiente. 1) “Repensar” o nosso consumo: o que é realmente necessário e o que é manipulação fútil da mídia e de campanhas de publicidade e marketing nos influenciando; 2) “recusar” produtos que serviços que sejam danosos ao ambiente, buscando alternativas para estes: por exemplo recusar produtos com embalagens plásticas (que demoram séculos para se degradar) ou com má qualificação em eficiência de energia elétrica; 3) “reduzir” o consumo daquilo que sabemos que é danoso à natureza mas que seria muito difícil recusar por inteiro: como por exemplo reduzir o consumo de eletricidade através da iluminação, ar condicionado, do chuveiro, do ferro de passar; reduzir também o consumo de carne, cuja produção é muito mais danosa para o ambiente que dos vegetais; bem como reduzir a utilização de automóvel particular, um dos principais emissores de gases do efeito estufa 4) reciclar o que for possível: que é quando algum material descartado volta à produção e se torna o mesmo produto que era antes e 5) reutilizar o que não for possível reciclar: como embalagens e materiais através da separação do lixo seco para a coleta seletiva ou reutilizar materiais descartados por determinadas indústrias como matéria-prima de outras.
Enquanto um dos organizadores das semanas integradas de design em Goiânia (seintegra! design) desde 2013, posso adiantar que a edição de 2015, com estimativa de participação de 500 estudantes de design de Goiânia, terá a sustentabilidade como um dos temas centrais, juntamente com inclusão, acessibilidade e a tão esperada regulamentação da profissão, que teve sua lei (PLC 24/2013) aprovada recentemente no Senado da República.
Para o intelectual norte americano Eldridge Cleaver, "se você não é parte da solução, então é parte do problema". E você, caro leitor, de que lado está?
Pedro Henrique
Publicado originalmente na revista Wide: http://www.revistawide.com.br/design/colunistas/sustentabilidade-design-e-cotidiano (Último acesso: 10 de abril de 2016)